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vive la France!

A França, por sua forte história política e social sempre esteve no imaginário de muitos de nós. Confesso que no meu esse país tinha um espaço especial. Quando tive a oportunidade de escolher um novo país para morar na Europa, essa foi minha opção. Mas em outro momento explico melhor tudo isso, agora quero falar de outra coisa.

Do dia 11 de setembro. Dia fatídico no qual eu tive que virar as costas e seguir meu caminho. Tive que suportar por alguns segundos a vontade de voltar, mas tinha que ir. Tinha que aqui estar, porque talvez aqui seja o palco privilegiado para viver o momento histórico pelo qual a Europa, e o mundo, passam.

Confesso que neste dia estava apreensiva. A bomba do meu onze de setembro era, aparentemente, meus pais voltarem para o Brasil, e eu, seguir para minha nova casa em Lille. Mas o dia reservava muito mais do que lágrimas de despedida. Como boa (nova) francesa, acordei no hotel em Paris e logo fui buscar uma baguete. Mas tudo estava uma confusão, não haviam baguetes!

Para meu espanto, a confusão era por conta de um evento esportivo – uma corrida. Mas ao caminhar pelo parque que leva até a Torre Eifell, encontrei uma moto incendiada. Pois eu sabia, que teriam havido manifestações na noite anterior. Nada de surpreendende, já que a dois dias o governo francês instalava uma homenagem aos dez anos do “maior atentado da história”.

Bom, dez anos depois eu pude sentir o 11 de setembro, ou o porque ele não é esquecido. E conto-lhes, pra isso, minha última aventura na sexta à noite.

Sexta é sexta né, então como boa festeira saí das aulas e fui para o bar da faculdade, de lá seguimos para o centro de Lille, onde vários bares animam a noite da cidade universitária. Devo dizer-lhes que Lille é uma cidade multicultural, conta com uns miles estudantes, muitos intercambistas do Erasmus, portanto, muito estrangeiro de todos os lados.

Todas as ruas e bares estavam cheios, francês por todos os lados, eu meio bêbada, já me sentia um pouco confusa. Na porta da primeira discoteca-bar o segurança nos olhou e disse que não poderíamos entrar, “é um bar privado” disse, apontando para uma placa, “vocês precisavam enviar um email com nomes para a lista”. Sem pensar, lhe perguntei se aquilo era verdade, e o outro rapaz da porta já ria para mim, indicação de que algo de errado acontecia.

Meu amigo, um tunisiano com traços marcantes, me levou a segunda tentativa. Um segurança negro nos barrou novamente, dizendo que não poderíamos entrar. Ao questionamos se era porque o tunisiano era Africano, a resposta do enorme (africano) segurança foi que aquilo era uma ofensa. No terceiro e último bar, a mesma coisa aconteceu e minhas perguntas não eram mais respondidas. O problema não é ser Africano, é ser arabe.

Digo-lhes que naquele momento, só podia tentar dizer a alguns franceses que passavam com seu característico blazê que aquilo era decepcionante. Decepçionante, mas esperado. Tenho certeza que eu estava mais brava com a situação que o próprio tunisiano, já acostumado com o tratamento.

A bela “ville des fleurs” caiu aos pedaços. Apesar de a todo momento ver mulheres com o véu ou a burca, apesar de morar em frente a uma igreja muçulmana, apesar de tanta multiculturalidade, apesar da amável maneira como os franceses me tratam …. muchou meu entusiasmo, e mesmo regando com vinho sinto-me estranha.

Decidi olhar melhor para essa tal multi.culturalidade.

Primeiramente gostaria de diferenciar o momento histórico desta miscigenação. Ao contrário do povo brasileiro, que se formou na mistura, a Europa se formou nas divisões. E de alguma maneira elas têm se acentuado com a atual crise.

Formam-se cada vez mais quartiers de cada uma das nacionalidades aqui presentes. As periferias são recheadas de supermercados ou igrejas advindas juntamente com as diferentes culturas. E neste momento, ao contrário do passado, as pessoas que imigram para a Europa, mantém suas caracteristicas culturais, deixando a mostra uma ruptura na sociedade francesa[européia]. Percebo cada vez mais esta diferença entre a imigração dos anos 80-90 para a do momento atual.

Felizmente, nosso país é respeitado cada vez mais. Admirado, é alvo de curiosidade. Aqui, confesso, ainda mais que em Portugal. Talvez exatamente pelo fato de que, aqui, poucos brasileiros vieram tentar a vida de imigrante, ao contrário de Lisboa, ou talvez Paris.

Apesar de ser bem recebida e de não ter problemas de pre-conceitos (até porque aparentemente, sou européia), algumas vezes o senso de humor frances passa do aceitável e torna-se preconceituoso. É o caso, por exemplo, de um rapaz que, numa agradável noite com amigos, vira-se pra mim e diz “que o brasil não compartilha do espaço schengen” (territórios comuns da UE, com transito livre de pessoas). E por isso fico fora da roda.

Ou quando referem-se aos “povos do leste” de maneira não tão simpática. Mas eu voltarei aos leste-europeu em outro momento. A mistura é estimulada pelos vários programas de fomento ao “sentimento e entendimento europeu”, mas ainda está muito longe de ser o que é o nosso mexido-bem-brasileiro. Eles continuam nos invejando por isso, e por muito mais. E nós, continuamos aqui, tentando entender um pouco dos seres-franceses.

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Edgar MORIN

 Volto no metro ainda olhando para meu velho “o Paradigma Perdido”, livro que comprei por 3euros na Feira da Ladra de Lisboa, já com anotações do seu antigo dono, e inevitavelmente, muitas minhas. Foi o primeiro de muitos de seus livros que me cativou. Agora junta-se a escrita de Edgar Morin. Numa palestra de duas horas e meia, Edgar Morin tratou, sempre com seu olhar complexo, o tema da cultura planetária.

http://culture.univ-lille1.fr/agenda/detail/article/conference-inaugurale-de-luniversite-lille1.html

A dificuldade de debater o tema da cultura advém da complexidade que este termo envolve, é como um camaleão, diz Morin, pois representa muitas coisas, muitas vezes distintas entre si. Podemos perceber a cultura hoje dividida em três culturas diferentes : a Cultura da Natureza (inclusive a humana); a cultura da educação/das humanidades (tradições, ritos, cozinha, música, línguas, etc) e a cultura científica (advindo do conhecimento grego e das universidades). A falta de comunicação entre elas e a suposta superioridade de uma sob as outras consciste num dos maiores erros atuais da humanidade.

A estética surgiu como nossa forma de nos dar ao mundo, porém foi absorvida pela cultura científica e regulou o desenvolvimento da universidade, fatores que promoveram o grande desenvolvimento da cultura ciêntífica, mas também a sua separação da cultura das humanidades, eliminou a subjectividade do sujeito, e fez com que o principal pilar de nossa sociedade atual ficasse separado do próprio sujeito/homem. A enorme compartização do conhecimento nos leva ao que Morin diz ser uma tragédia cognitiva: quando é que estudamos o que é ser humano? 

Segundo a visão deste pensador, deixamos de pensar o que somos, o porque vivemos ou como chegamos aqui, para simplificar tudo ao redor de números e fórmulas, com a economia como força alienatória da vida humana. Estamos sobre a dominação numérica, mas não podemos contar a alegria, quantificar o amizade, as relações sociais, (l´amour!) … Esquecemo-nos que somos seres do Planeta Terra, advimos da evolução das primeiras células e carregamos, em nosso organismo complexo, toda a evoluçao da Terra, somos parte da história do universo. Segundo Morin passamos por uma crise da humanidade (e não somente da civilização) que é também momento de oportunidade, e precisamos de mudanças profundas na nossa sociedade e em cada um de nós. 

A era global que vivemos bera o perigo da homogenização cultural, mas a mesma tendência à destruição pode ser vista no seu oposto, como a tendência à reciclagem e à mistura, que nos levaria a um mundo ainda mais complexo do que o que vivemos. Por isso atualmente a cultura está numa constante luta entre a originalidade e a mistura. Mistura não é a unificação, é complexificação.

Neste momento, Morin explica sua paixão pelos romances e filmes. Fala sobre como a literatura, a música ou o cinema são importantes para abrir ao mundo a história, as tradições, os ritos de países antes desconhecidos de nossos imaginários. Mesmo as novelas, diz ele. Também declara seu amor ao Flamenco, música e dança tradicional dos ciganos, que estava a beira da extinção quando grupos de jovens espanhóis na Andaluzia o retomaram, o reciclaram e novamente o transmitiram para o mundo. Tal como o jazz. É pela mistura que a cultura sobrevive, e espalha-se.

Retoma então a ideia de que são os jovens que têm a aspiração e produzem a fermentação necessária para mudanças na sociedade, ainda não complementamente domesticados pela super-estrutura sistêmica. E enfatiza a importância da ciberCultura nos dias atuais.

Ao mesmo tempo que permite a comunicação direta entre os diversos grupos sociais (tanto bons quanto ruins – reativos, grupos de pressão, mafiosos, etc), mantem-se como força econômica e política. Amplia as possibilidades de busca livre pelo conhecimento, gerando autodidatas em vários temas, ao mesmo tempo que pode significar empobrecimento da comunicação (já que informação não é necessariamente traduzida em conhecimento).

Morin defende uma reformulação completa do modo de construção do conhecimento, onde o sujeito percebe-se na dualidade entre ser parte do universo e ser um indivíduo único. No qual as disciplinas dialogam e complexificam-se para compreender o mundo que nos forma. No qual as várias formas de construção da realidade são interligadas para entendermo-nos. Um mundo no qual « A poesia recitada par cœur não é algo que se escreve ou se lê, é algo que se vive. É a nossa forma de nos dar ao mundo. ».

Ao terminar, voltou a seu lugar na mesa, recolocou o relógio e aguardou atento pelas perguntas. Minha alegria de vê-lo a uma distância mínima foi a de perceber que ele é como nós, revolucionário, energético quando fala, com brilho no olhar e com um pensamento que brinca com as (inter)ligações. Um sujeito que busca religar os conhecimentos para entender o que somos, que coloca o mesmo peso na ciência, nas tradições, na música e na dança, na dramaturgia e na história. Um sujeito complexo, que nos mostra que o mundo que vivemos é o todo e a parte de nós. 

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volto a escrever … sigam os caminhos


Acaba-se um ano, e começasse outro. Faz um ano que estou longe. Reencontro meus pais. Me mudo novamente, indo agora de Lisboa para Lille. Passo a acordar e dormir falando francês. Mudo a alimentação e os conhecidos. Mudo as roupas de verão pras de inverno. Daqui um mês.

Mas quanto tempo passa num tempo todo?

Depois de tanto silêncio, sinto-me novamente pronta para falar, ou escrever. Foram meses de muitas descobertas, pra dentro e pra fora do meu ser. Foram dez meses de vida européia, dez realidades distintas em diferentes terras e experiências. Foram muitos dias de silêncio e conversa comigo e com teorias, histórias. Foram outros tantos de agitação, falas, música. Confesso que a minha saída do Brasil não me era bem entendida quando aconteceu. Hoje talvez eu entenda um pouco, mas ainda busco, cada vez mais, a compreensão. Vivemos em tempos difíceis, tempos turbulentos. É nosso destino, como geração dos oitenta. Os 1984, incrivelmente George Owen na nossa realidade cotidiana.

Tornei-me polaca de verdade, e me adaptei aos costumes europeus. Coisas do cotidiano que nos mostram como mudamos por conta da sociedade e sua cultura. Atravessar somente na faixa e com o sinal verde, fazer o contrário em alguns lugares motivo para uma bela multa (londres.berlin), costume em todos os lados. Andar pelo Bairro Alto (lisboa.portugal) sem esbarrar em nenhuma de suas centenas de frequentadors. Pagar os ônibus sem catracas nem cobradores, tendo como observadores os outros utilizadores do mesmo.

Aflorei meu patriotismo. Meu brasil brasileiro, gigante pela própria natureza. A europa é invadida por nossa grandesa. Turistas, estudantes, imigrantes, trabalhadores, empresários, políticos. Bem vistos e (também) mal vistos. Felizes, cansados, festivos, viajentes, emotivos, alegres, explorados, exploradores. Alvo de (des)interesse.

Em berlin.alemanha vi e vivi a diversidade, a cultura, o questionamento. No meio de duas experiências distintas e muito mais complexas: Carla Andraus voltando à nossa terra depois de um ano andando pela europa. Ana Luíza Toledo começando a acostumar-se com a babilônia londrina.Todas com expectativas, percepções e processos distintos. Todas dividindo e criando juntas.

Ao descobrirmos o www.berlinlaght.be não imaginava quanto seria importante para mim. Era como um grande www.festival.de.cultura.art, performaces incríveis, estrutura alternativa e suficiente, interação do público, oficinas, brinquedos, artesanato, artistas de rua. Mas foi quando ele acabou que me caiu a ficha. Como boa brasileira, arranjei nossa entrada na festa dos artistas e produtores do berlin.laght, e aí, rimos da antiga roberta agindo como a lider. E percebi, que o período de adaptação passou, que continuo sendo eu, algumas coisas mudaram, mas a essência continua.

Pois se até meu português agora é chamado de brasileiro, e se autocarro, casas de banho, mortálias e gajos são motivo de piada nas ligações do skype, creio que também a menina roberta (como falante lisboeta) mudou-se. O caminho segue, as experiências intensificam, as oportunidades surgem, o sol se põem assim como a lua. Algumas coisas se diz, outras se vive. Reabro as publicações nos www.caminhosabertos.soylocoporti.org.br e espero transmitir-lhes um pouco disto tudo misturado. Teorias e práticas. Pensamentos e viagens. Vida.

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Sintra :: como um conto

O vilarejo de Sintra fica a um trem de distância de Lisboa. Ou melhor, um comboio, como aqui eles chamam. Essa viagem me abriu os olhos pra África que aqui está presente. Sim, porque é por esse trajeto de subúrbios de Lisboa que se vê muitos deles apressando-se para cumprir seus afazeres. É um trajeto de trinta minutos que me fez pensar muito.

Refletir sobre o funcionamento das grandes cidades e como elas são praticamente iguais no mundo todo: o centro e a periferia. Os que ostentam e os que sustentam. Os que correm e os que apreciam a vista. Os que falam o português correto e àqueles que falam dialetos. Do outro lado do oceano, ainda temos dois pesos e duas medidas. Só que aqui, os negros são africanos, estrangeiros explorados, isolados e necessários. São eles que estão nos cargos de limpeza, reposição nos supermercados, caixas. Mas também são eles que riem, que cantam, que se divertem com seu próprio tempo. São eles que me fazem lembrar o Brasil, a descontração de ser. A alegria de não ter nada, mas ao mesmo tempo estar com os outros. Me senti saudosa do nosso povo, e ao mesmo tempo muito instigada a com eles desenvolver algum trabalho. Aprender suas línguas, suas maneiras, seus costumes. Acho que por conta da proximidade/influência na nossa própria formação.

Mas, foi ao chegar em Sintra que me deparei com uma grande descoberta. Um sítio arqueológico da história política e cultural do povo português. Um vilarejo que atrai turistas e revela a grandiosidade do império português da época das explorações além mar. vilarejo de Sintra :: ao fundo, Castelo dos Mouros

A cidadela é no meio de um vale. Onde pode-se visitar cinco diferentes lugares em diferentes estágios de conservação: Castelo dos Mouros, Convento dos Capuchos, Parque e Palácio de Monserrate e Parque, Quinta da Regaleira e Palácio da Pena. Eu tive que optar por dois deles, e comecei visitando o Parque da Pena. Ali, viveram, por quatro gerações, uma das famílias que controlava o comércio têxtil (de 1820-1930). Buscando o melhor do seu tempo, com o auxílio de botânicos reflorestou toda a área com plantas nativas do mundo todo, que ele trazia das expedições que lhe davam o dinheiro para tanto luxo. O jardim é finamente ornamentado, com árvores de mais de 20m de altura, e hoje apresenta algumas construções tomadas pela natureza. Em estilo romântico, sua casa era finamente decorada, do chão ao teto. Além de moderno, pois ali já haviam todas as ligações de energia e calefação necessárias para uma vida tranquila de sua família (antes mesmo de outros castelos da região o terem). florestas enormes

Infelizmente, esta propriedade ficou abandonada após a derrocada da família, que a vendeu a investidores privados, que por sua vez venderam os móveis, obras de arte e que, já estavam loteando a propriedade para vendê-la aos pedaços. O governo português então interviu. Arrematou a propriedade e a deixou fechada, apodrecendo. Cinquenta anos depois, com as leis de incentivo e investimentos estrangeiros, a área começou a ser restaurada.o castelo e seus cogumelos florescendo Hoje a visitação está aberta em algumas partes internas. Ao sair, para minha surpresa, uma moça me convida para uma palestra que ali aconteceria: sobre a biodiversidade da região e os cogumelos ali presentes, os quais eu já havia visto no jardim. Meu tempo era escasso, então, como disse a portuguesinha “nada de cogumelos?” … “infelizmente tenho pouco tempo, e minha viagem ao passado português deve continuar”.

Sigo então para a Regaleira. Uma propriedade espetacularmente ornamentada. O sr. Carvalho Monteiro era no mínimo excêntrico, e muito influente. Um local para festas e ocasiões especiais. Ao adentrar a propriedade, percebe-se que não era simplesmente diversão que ali ocorria. Algumas das construções refletem seu real uso: a política. Há um local onde se faziam reuniões. Diversas construções se conectam no que dizem ser “a passagem” para que os novos membros entrassem na rede de relações dos maçons.

torre invertidaO que mais chama a atenção é a Torre Invertida, que se afunda cerca de 27m no interior da Terra, com acesso através de uma monumental escadaria em espiral. Toda construída com base na numerologia (múltiplos de 3, e totalizando equações na base do 9, número perfeito para os maçons). Dizem que por ali entravam os novos membros, e que sozinhos, deveriam chegar à saída, passando por túneis, labirintos de pedras e finalmente passando por cima de um lago (como na Ilíada) sob pedras que poderiam afundar a qualquer mau passo. O caminho? Sempre a direita, pois esse é o lado correto e do bom caminhante.

O Castelo encontra-se muito bem consevado, e pode-se visita-lo tanto andando, quanto vendo as imagens em uma tela como um video-game, incrível. Em sua torre principal, um laboratório de alquimia. A vista é sensacional, da propriedade e da região. Capela

Depois ainda sobrou energia pra pegar um ônibus que me levaria a Cascais, um balneário de veleiros. Por sorte ocorria naquela noite uma grande festa cultural, com vários palcos espalhados pelas ruelas de pedras e antigas construções. Desde o brasileiro samba com mulatas, até DJ’s e apresentações de teatro de rua, arte circense e ao final, um espetáculo simples mas belo demais: sobre a costa, com veleiros no mar escuro da noite, os organizadores enviavam aos céus pequenos “balões” com fogo. E ali, olhando aquele belo espetáculo me lembrei de como são importantes nossas ações como Coletivo de levar a arte às ruas da cidade. Infelizmente, a essa altura, as pilhas da máquina já não respondiam, e eu, também precisando recarregar as forças, fui-me deliciar com uma especiaria da culinária portuguesa: bacalhau com natas. Final de semana de conto de fadas pra começar a conhecer Portugal.

*em breve:: primeiras impressões de Lisboa e minha adaptação às mudanças

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Chora, chora, chora mas não se demora ….

As despedidas se delongaram. Se a princípio minha entrada no mestrado de Economia Política e Social do ISCTE (www.iscte.pt) foi uma surpresa fulgás, a espera pelo visto e por todos os arranjos pra ir-me pras outras terras além mar se delongaram. Isso me deu tempo de comemorar várias vezes meu aniversário e minha despedida. Aí podemos observar de duas perspectivas, dois pontos, como sempre, o lado bom e o ruim.

Primeiro, da perspectiva da minha vida. O bom é que estava exatamente no meu momento astral pra que a mudança ocorresse. Sim, acredito que o aniversário é sempre momento de virada. Virada do ano, do clima, da vida. E sim, veio a calhar. O lado ruim? A espera, a ansiedade, as dúvidas, o inferno astral.

Segundo, da perspectiva do momento. O bom é que, sabendo que a chegada em Lisboa e meu sucesso inicial lá dependerão de meu empenho pessoal, bebi e festei bastante pra lá ficar tranquila pra labutar, correr atrás das resoluções de minha nova vida, sem o peso da ressaca, a qual nos últimos tempos esteve presente em várias manhãs pós-festas-despedidas com tantos amigos e grupos diferentes. O lado ruim, é que a cada festa, a cada encontro, sabia que aquele podia ser o último a ver os rostos conhecidos, ter conversas intimistas e chorar. Isso muito aconteceu. Chorei como nunca. Ruim, pois voltava a reencontrar os amigos e parecia que era mentira. Voltava a chorar e lamentar a falta que sentiria. Comecei a pensar que o dia não chegaria.

Pois chegou. E acá estou. Sozinha, depois das últimas despedidas, que obviamente, foram as mais difíceis. Sei que as distancias hoje não são grandes (com os meios de comunicação como estão), que dois anos passam muito rapidamente, que logo receberei visitas das pessoas queridas e conhecidas do Brasil. Mas ainda assim. É uma mudança enorme.

Eu, jovenzita que sou, saio pela primeira vez da “casa de mamãe”. Pela primeira vez também viajo com a perspectiva de mudança de vida, e não da aventura de conhecer. Pela primeira vez entro num mestrado, com o peso de uma outra língua (português de Portugal não é como no Brasil). Vou-me sozinha, sem casa, sem emprego, sem noção?

Não, não. A noção eu trouxe. Assim como as preciosidades que me lembram de todos que deixei pra trás. Cartões, presentes, lembranças, gestos e imagens. Cada um desses momentos finais no Brasil me fizeram perceber quão importantes são as pessoas. Aqueles que comigo sonharam, comigo desejaram, comigo viajaram nesta viajem antes mesmo dela se concretizar. E que, agora, comigo, seguem o rumo do desconhecido. Sinto a energia de todos vocês.

Sei que a vida continua. E o tempo passará e mudará muito Curitiba e seus habitantes conhecidos por mim. Penso quão diferente verei esta cidade, estes lugares e pessoas quando voltar. Não só por estar fora, mas por mudar-me. Por transformar-me com a nova experiência. Por saber que a vida nunca pára. Que todos seguirão seus rumos. E que, sem vê-los perceberei mais as diferenças. Pois elas estarão em mim tanto quanto em vocês.

Desejo, agora, apreensiva esperando o vôo que me levará além mar, que todos, todas e tudo mude pra melhor. Que a minha ausência seja motivo de alegria. Que minhas descobertas sejam instigantes pra que outros sigam novos caminhos. Que meu futuro seja tão cheio de energia quanto é meu passado. E que a nova fase seja realmente a realização de um sonho. Como nas vidas das pessoas que tomam decisões que mudam tudo, até mesmo sua forma de ver e viver a vida. Recomeço, com 26. Recomeço. Com saudades do que foi, do que não foi e do que será. Pois agora, terei saudades dos dois lados, quando em um estiver, do outro sentirei falta. Não é? Ora pois …. donde estoy?

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índice global da paz – o brasil em 83′

Da Agência Brasil
BRASÍLIA – O Brasil ocupa o 83º lugar em um ranking que identifica aspectos de violência em 149 países, no qual os primeiros são considerados os países mais pacíficos. A pesquisa é feita pelo Instituto para Economia e Paz, baseado na Austrália. Na América Latina, o Brasil é o 10º país mais pacífico. A melhor posição na região é ocupada pelo Uruguai, depois pela Argentina, pelo Paraguai e pela Bolívia. As informações são da BBC Brasil.

O fim da violência levaria a um ganho de cerca de US$ 101 bilhões anuais à economia do país, de acordo com a análise do instituto. Segundo cálculos da entidade, o Brasil teria tido um Produto Interno Bruto (PIB) US$ 101,66 bilhões mais alto, não fosse a violência interna e de US$ 8,44 bilhões a mais sem a violência fora do país. O PIB brasileiro foi de US$ 1,57 trilhão no ano passado.

A criminalidade em geral, observando a quantidade de homicídios, a percepção do que é violência pela sociedade, o acesso às armas de fogo e o nível de respeito aos direitos humanos são apontados como os principais pontos negativos do país entre os mais de 20 indicadores analisados para o índice.

Em uma pontuação que vai de 1 (mais pacífico) a 5 (menos pacífico), o Brasil teve 2,048 neste ano. O dado revela uma piora em relação a 2009, quando o índice registrado no Brasil foi de 2,022. Ainda assim, o país subiu duas posições no ranking em relação a 2009.

O instituto publica anualmente o Índice Global de Paz (IGP), que mede indicadores de segurança e violência no mundo. A Nova Zelândia aparece em primeiro lugar, seguida pela Islândia, o Japão, a Áustria e a Noruega.

No ranking da América Latina, em que o Brasil é o 10º lugar, as posições dos países vizinhos são: Uruguai, 24º lugar; Argentina, 71º lugar, Paraguai 78º e Bolívia (81ª). Os Estados Unidos aparecem em 85º lugar.

Os piores índices em relação à violência foram registrados no Iraque (149ºlugar), na Somália (148ª posição) e no Afeganistão (147º lugar) detalhe: dois destes países que ocupam os últimos lugares sofreram interferência externa por parte dos EUA para ‘promover a democracia’… ou fomentar a indústria de guerra deles (!). Segundo a análise do Instituto para Economia e Paz, o ganho potencial para a economia mundial, caso toda a violência no mundo cessasse, seria de US$ 7 trilhões no ano passado, ou 13,1% do PIB global.

O estudo diz que os setores que mais teriam a ganhar com o fim da violência interna no Brasil seriam restaurantes e hotéis, comércio e indústria. Juntos, esses setores poderiam gerar um adicional de US$ 50,95 bilhões com a paz interna e externa.

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você já ouviu falar do ACTA – Acordo Comercial Anti-Falsificação ??? Então, deveria se inteirar ….

Texto retirado do site da Le Monde Diplomatic Brasil – veiculada em 29/03/2010
http://diplo.org.br/Dossie-ACTA-para-desvendar-a

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O que é, como foi revelado e quais os desdobramentos do acordo internacional secreto que pode bloquear a trocas pela internet, proibir os medicamentos genéricos e ampliar as desigualdades entre países ricos e pobres. Há alternativas?

Em 25 de março, o governo de Barack Obama tornou público o esboço de um acordo internacional espantoso. Eufemisticamente denominado ACTA – as iniciais em inglês de Acordo Comercial Anti-Falsificação [1] –, ele tem objetivos muito mais vastos. Incide sobre a circulação de bens simbólicos – a atividade que mais mobiliza a criatividade humana no presente, e também a que mais desperta expectativas de lucros. Mas o faz no sentido do controle. Ao invés de incentivar e qualificar a expansão das trocas livres, restringe e mercantiliza o intercâmbio de cultura, conhecimento, marcas e fórmulas necessárias ao combate das doenças.

Recorre, para tanto, a métodos totalitários e policialescos, que ferem em múltiplos pontos a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Permite violar correspondência sem ordem judicial e intervir na comunicação pessoal. Encarrega os provedores de acesso à internet e os serviços de hospedagem de sites de vigiar e punir os internautas. Criminaliza, em especial, a troca não-comercial de arquivos via internet, o que ameaçaria milhões de pessoas com penas de prisão [2]. Atinge kafkianamente o software livre – ainda que os programadores que o constroem não reivindiquem direito a propriedade. Como frisa James Love, no Knowledge Ecology International, um dos site envolvidos na mobilização internacional sobre o tema, o ACTA enquadra, sob o conceito de “escala comercial”, não apenas o que tem “motivação direta ou indireta de ganho financeiro”, mas “qualquer sistema de grande amplitude”. Em outras palavras, as grandes corporações que comercializam produtos culturais querem colocar fora da lei aqueles que os oferecem gratuitamente…. É uma ameaça, a longo prazo, até mesmo a serviços como o Google [3].

Estabelece penas que ultrapassam a pessoa do suposto infrator, violando um princípio jurídico que vem do direito romano [4]. Bloqueia a circulação internacional de medicamentos genéricos, que considera frutos de violação à propriedade intelectual das indústrias farmecêuticas. [5]. Submete os serviços públicos de alfândega a interesses e determinações de empresas privadas. [6]. Procura frear a emergência dos países do Sul do planeta e a possibilidade de uma divisão mais justa da riqueza — congelando a divisão internacional do trabalho hoje existente.

* * *

Debatido sigilosamente há três anos, o rascunho do acordo só veio à luz depois de uma série de pressões de grupos da sociedade civil e de alguns parlamentares. Mas a falta de transparência nunca foi completa. Sucessivas baterias de reuniões internacionais foram desenhando o ACTA. A elas tiveram acesso os governos de um pequeno grupo de países: Estados Unidos, Japão, Suíça e União Europeia, desde 2007; Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Emirados Árabes, Jordânia, México, Marrocos, Nova Zelândia e Singapura, numa segunda etapa. E embora excluíssem os Parlamentos, os representantes do Poder Judiciário e a sociedade civil, os governantes sempre tiveram a companhia dos grandes lobbies empresariais [7] — o que bastaria para atestar o caráter não-republicano e ilegítimo da proposta.

* * *

O ACTA é o lance mais recente de uma grande disputa civilizatória, que emergiu na virada do século e marcará, agora está claro, as próximas décadas. Por um lado, a economia do imaterial e a internet abrem, entre os seres humanos, possibilidades inéditas de liberdade, autonomia, des-hierarquização, invenção e criação colaborativas de riquezas. Na direção oposta, setores do capital procuram capturar esta riqueza comum. Para tanto, investem inclusive contra as liberdades conquistadas já na época da Revolução Francesa.

Mecanismos para restringir a soberania dos Estados e sociedades, impedindo-as em especial de “interferir” sobre a “autonomia” das grandes empresas, foram propostos pelo Acordo Multilateral de Investimentos (AMI). Articulado até 1998, no Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômica (OCDE), ele exigia pagamento de indenizações aos “investidores”, sempre que os Estados adotassem medidas que pudessem resultar em redução de lucros – uma legislação trabalhista ou ambiental mais protetoras, por exemplo. Foi também negociado em sigilo, mas ao final vencido por uma articulação da sociedade civil. Ela se espraiou por diversos países – o que era, então, incomum – e ganhou força ao denunciar o caráter oculto, e portanto antidemocrático, da iniciativa da OCDE.

Eram tempos de forte supremacia das ideias neoliberais. Por isso, a derrota do AMI pareceu mero acidente de percurso. Mecanismos muito semelhantes foram incluídos, pela Organização Mundial do Comércio (OMC), na convocação de uma rodada de negociações internacionais para liberalizar as trocas internacionais – a chamada Rodada do Milênio. Ela previa, além disso, enorme pressão para que os Estados desarticulassem suas redes de serviços públicos (Educação, Saúde, Água, Saneamento, Transportes e tantos outros, em muitos casos gratuitos) e os transformassem em mercadorias. Naufragou em Seattle, em dezembro de 1999, diante de uma mobilização internacional maciça, de características até então desconhecidas (como o protagonismo múltiplo e a horizontalidade) e diretamente precursora dos Fóruns Sociais Mundiais.

Dez anos depois, o ACTA é a nova investida. Chega num cenário internacional muito distinto: as ideias neoliberais perderam terreno; a colaboração via internet faz parte do quotidiano (em especial, entre as gerações mais jovens); países como China, Brasil e Índia ganharam força e iniciativa nos debates e fóruns de decisão mundiais. Para fazer frente à nova realidade, o novo acordo precisa expor ainda mais seu caráter autoritário. E já não é possível negociá-lo abertamente em nenhuma instituição internacional – nem mesmo a OMC. Por isso, o ACTA tem sido debatido em reuniões semi-informais, entre governos e grupos empresariais. O próximo ocorrerá na Nova Zelândia, entre 12 e 16 de abril. A própria aparição do texto-base só tornou-se inevitável depois que o Le Monde Diplomatique francês teve acesso a vazamentos e publicou, em sua edição de março último, um artigo, disponível no site Outras Palavras.

Ainda assim, subestimar o acordo seria um erro grosseiro. Embora seu prestígio tenha recuado nitidamente, as ideias neoliberais ainda influenciam governos e parte da opinião pública – inclusive porque, em oposição a elas, há valores e certas políticas – mas ainda não um projeto de sociedade alternativo. Por isso, leis nacionais com sentido muito semelhante ao do ACTA foram aprovados há poucos meses na França (lei Hadopi [8] e nos Estados Unidos (DMCA [9]). No Brasil, a Lei Azeredo, de idêntico sentido, chegou a ser votada no Senado, sendo revertida graças a intensa mobilização da sociedade, que convenceu o presidente da República. Há poucos dias, o próprio presidente dos EUA, para cuja eleição a liberdade na internet foi fundamental, deu declaração enfática em favor do acordo. “Vamos proteger de maneira agressiva nossa propriedade intelectual (…) [Ela] é essencial para nossa prosperidade, e será cada vez mais, ao longo do século. (…) Eis porque os Estados Unidos utilizarão todo o arsenal de instrumentos disponíveis (…) e avançarão para novos acordos, em nome dos quais se articula a proposta do ACTA [10]”.

* * *

Uma possível estratégia para enfrentar o acordo deveria envolver diversas ações paralelas. A primeira é a denúncia da ameaça. Por se tratar de um acordo internacional, ela deve ser igualmente planetária. Em diversas partes do mundo começam a surgir articulações da sociedade civil em torno do tema. Entre elas, destacam-se no momento La Quadrature du net (“A quadratura da net”, www.laquadrature.net), na França, Knowledge Ecology International (Ecologia do Conhecimento Internacional, www.keionline.org), nos Estados Unidos, e PublicACTA (http://publicacta.org.nz, na Nova Zelândia), que inclusive prepara um encontro internacional da sociedade civil, paralelo à próxima reunião internacional de articulação do ACTA, em Wellington. A forte presença de um movimento de resistência nos países ricos deixa claro que a luta em favor da liberdade de conhecimento precisa envolver também as sociedades civis e organizações políticas do Norte.

Construído num fórum informal, o acordo não poderá ter aplicação imediata – nem mesmo quando os países participantes chegarem a um acordo, numa de suas próximas reuniões. O caminho traçado por seus promotores, nas condições atuais, passa provavelmente pela aprovação de leis derivadas do acordo em parlamentos nacionais dos países do Norte. Lá, como deixa claro o discurso de Obama, os interesses econômicos dos que se julgam titulares de propriedade intelectual são mais fortes.

O passo seguinte seria transpor os mesmos dispositivos para o Sul. O caminho mais fácil para tanto são os acordos de comércio bilateral. Por meio deles, os países ricos podem, por exemplo, abrir seu mercado a certos produtos agrícolas, reivindicando em contrapartida grandes concessões na área de propriedade intelectual.

Para prevenir esta armadilha há, além do debate de ideias, um recurso institucional: é a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI). Parte do sistema ONU, ela foi bastante criticada, no passado, por reproduzir algumas das distroções comuns às organizações multilaterais [11]. Porém, debate, há alguns anos – e aqui está outro desdobramento da nova conjuntura internacional – uma “Agenda do Desenvolvimento”. Proposta inicialmente por Brasil e Argentina, com forte apoio da Índia, inclui certas medidas com sentido oposto ao da ACTA. Rejeita explicitamente a penalização das trocas de arquivos por internet. Quer limitar e abrir exceções ao “direito” de patente [12].

No entanto, a resistência parece ser apenas parte da resposta. Numa época em que dois futuros opostos parecem possíveis – a regressão a formas de controle totalitário e as lógicas de colaboração pós-capitalistas —, é preciso desenvolver a segunda alternativa. O que seriam os novos direitos civis e sociais, na época da internet? Como estender a todos os seres humanos o acesso permanente e rápido à rede — hoje privilégio de uma minoria? Mais: como fazer deste direito não apenas a possibilidade de receber o conteúdo criado por outros; mas, também, o de participar ativamente da produção coletiva de cultura e conhecimento? E, além da internet: num tempo em que o saber converteu-se na principal fonte de riquezas, e é por natureza construção coletiva, como promover a distribuição das riquezas geradas por ele?

Se uma mobilização internacional já se esboça, em resposta ao ACTA, talvez ela possa se propor, também, a responder de modo colaborativo aestas questões.

Para ampliar este texto:

O debate sobre a ACTA será, provavelmente, um processo prolongado, que exigirá múltiplos saberes e esforços. Abaixo, alguns dos caminhos para melhorar e ampliar o presente artigo [13]

> Para assuntos relacionados ao acordo em geral:

Há, no Twitter, intensa postagem com referências a material importante sobre o acordo. Pesquisar por #ACTA. Acompanhar, em particular, as microblogagens de James Love, Michael Giest, Philippe Rivière, OpenActa (rede mexicana) e, no Brasil, de Caribé, Fátima Conti, Marcelo Branco e Sérgio Amadeu.

Le Monde Diplomatique estampou, na edição de março, um importante artigo sobre o ACTA. Pode ser encontrado, em português, no site Outras Palavras. A análise foi expandida num texto de Philippe Rivière, disponível por enquanto no blog da redação do jornal.

Na Biblioteca Diplô, é possível recuperar (em português) os textos publicados pelo jornal sobre a vitória contra a Rodada do Milênio da OMC, antecessora do ACTA: 1 2 3 4

> Para analisar a primeira versão pública:

O texto inicial do ACTA (versão pdf) está aqui É um documento de mais de 50 páginas, preliminar, com marcações sobre as diferentes posições dos países que participam das negociações, quando existem divergências. O artigo acima foi baseado em vazamentos prévios, de partes do documento, e nas primeiras análises publicadas na internet.

Para novas análises, mais detalhadas, serão muito úteis a própria leitura detalhada do texto (em inglês) e os seguintes sites, que têm publicado material a respeito:

Margot Kaminski: Professora de Direito na Universidade de Yale, especialista em liberdades civis na era digital, ele escreveu, em seguida à publicação do esboço do ACTA, uma breve análise a respeito. Foi publicada no site Balkinization, também uma importante fonte de notícias e análises sobre o tratado.

Michael Giest, professor de Direito da Universidade de Ottawa (Canadá), mantém um blog com ampla informação e muitas análises sobre o ACTA. Em janeiro deste ano, ele publicou uma série de cinco artigos sobre o acordo, o primeiro dos quais pode ser lido aqui.

La Quadrature de net é a princiapl iniciativa francesa em defesa da liberdade na rede. Dá destaque especial ao ACTA, dedicando-lhe, inclusive, uma seção específica.

Knowledge Ecology International, é um excelente site norte-americano sobre propriedade intelectual e direito à comunicação e cultura.

James Love, fundador e articulador do Knoledge Ecology International, mantém um blog com análises constantes e profundas.

PublicACTA é um site neozelandês com interessantes análises a respeito do acordo. Organiza encontro internacional da sociedade civil, que deverá ocorrer em Wellington (com forte interface via internet), entre 12 e 16 de abril – paralelo a uma nova rodada de conversações dos governos que preparam o acordo.

Sobre a história do ACTA:

Na versão em inglês da Wikipedia, há um importante verbete a respeito do acordo, com breve descrição de sua origem e todas as etapas da negociação. Também é muito informativa a série de cinco artigos publicada por Michael Geist em seu blog (começa aqui.

Sobre o acordo e o Brasil:

Em novembro de 2009, a revista A Rede entrevistou, a respeito do ACTA, Pedro Paranaguá, professor da FGV-Rio. Suas opiniões estão aqui.

No site Xô, Censura, há uma série de três artigos publicados, a partir de julho de 2008, por Fátima Conti. Redigidos quando a Lei Azeredo ainda estava em debate.

___________
[1] Anti-Counterfeiting Trade Agreement

[2] Em 10 de março de 2010, James Murdoch, herdeiro do grupo de mídia que leva seu sobrenome recomendou, numa entrevista coletiva em Abu Dhabi, deixar de ser “amistoso” com os consumidores e punir os “ladrões” de filmes como se punem os ladrões comuns

[3] Um dos esboços do ACTA exige que as legislações dos países signatários punam também “a incitação, assistência ou cumplicidade” ao que chama de “falsificação”, ou “pelo menos, os casos de assistência à ’falsificação’ [aspas nossas] voluntária de marca e de direito autoral, ou direitos conexos, e de pirataria em escala comercial”. O texto parece escrito sob medida para atingir buscadores alternativos, como o Pirate Bay. Mas permite enquadrar também o Google

[4] Inspirado na lei francesa Hadopi, o ACTA quer excluir da internet os usuários acusados de trocar produtos culturais “não-autorizados”. Para fazê-lo, pretende congelar os endereços IP dos “transgressores”. Finge ignorar que um mesmo IP atende a diversos moradores de um mesmo domicílio (adultos ou crianças), sendo frequentemente compartilhado por seus vizinhos e pessoas em trânsito pela área.

[5] Nos últimos anos, medicamentos genéricos, transportados por navios procedentes da Índia e com destino a países africanos, foram bloqueados mais de uma vez em portos europeus. Os produtos retidos eram perfeitamente legais, tanto no país de partida quanto no de chegada, mas autoridades europeias consideraram que o trânsito por seus países feria o princípio de propriedade intelectual

[6] Uma das versões do ACTA que veio a público revela: empresas privadas poderão solicitar diretamente às autoridades aduaneiras (sem necessidade de procedimento judicial) a fiscalização e eventual retenção de produtos supostamente falsificados. Fiscais alfandegários terão também atribuição de verificar, reter e em alguns casos destruir produtos “falsificados” e também arquivos eletrônicos (músicas ou filmes “não-licenciados”, por exemplo) armazenados em computadores, pendrives e telefones celulares

[7] Cartéis como a Aliança Internacional pela Propriedade Intelectual (IIPA, em inglês), a Motion Picture Association of America (MPAA, que representa a indústria norte-americana do cinema), a Business Software Alliance (BSA, de programas de computador não-abertos) e a Recording Industry Association of America (RIAA, para a música) são desde o início construtores privilegiados do ACTA

[8] Parcialmente bloqueada pela corte constitucional francesa, por incompatibilidade com as liberdades individuais, a lei entrou em vigar em novembro de 2009. Para informação detalhada, ver verbete (em francês) na Wikipedia)

[9] Digital Millenium Copyright Act, descrito e analisado em detalhes na Wikipedia, em português, (verbete mais completo)

[10] A fala de Obama, na íntegra, pode ser lida aqui

[11] Informações maiores sobre a OMPI, incluindo críticas a ela, podem ser encontradas na Wikipedia

[12] No Brasil, o Observatório OMPI, do site Cultura Livre faz um ótimo acompanhamento da Agenda do Desenvolvimento

[13] (Esta é a primeira versão de um texto colaborativo. Veja aqui como participar de sua construção e difusão)

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oráculos da verdade

ORÁCULOS DA VERDADE
Frei Betto

O filósofo alemão Emmanuel Kant não anda muito em moda. Sobretudo por ter adotado em suas obras uma linguagem hermética. Porém, num de seus brilhantes textos – “O que é o Iluminismo?” – sublinha um fenômeno que, na cultura televisual que hoje impera, se torna cada vez mais generalizado: as pessoas renunciam a pensar por si mesmas. Preferem se colocar sob proteção dos “oráculos da verdade”: a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor.

Esses os guardiões da verdade que, bondosamente, velam para não nos permitir incorrer em equívocos. Graças a seus alertas sabemos que as mortes de terroristas nas prisões made in USA de Bagdá e Guantánamo são apenas acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de prolongada greve de fome.

São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos EUA no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias com crianças e mulheres, e nos fazem encarar com horror a pretensão de o Irã fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho, Israel, ostenta a bomba atômica.

São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária, enquanto o latifúndio, em nome do agronegócio, invade a Amazônia, desmata a floresta e utiliza mão de obra escrava.

É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh, “gado doméstico”, arrebanhamento, de modo que todos aceitem, resignadamente, permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminhar sozinho.

Kant aponta uma lista de oráculos da verdade: o mau governante, o militar, o professor, o sacerdote etc. Todos clamam “Não pensem!” “Obedeçam!” “Paguem!” “Creiam!” O filósofo francês Dany-Robert Dufour sugere incluir o publicitário que, hoje, ordena ao rebanho de consumidores: “Não pensem! Gastem!”

Tocqueville, autor de Da democracia na América (1840), opina em seu famoso livro que o tipo de despotismo que as nações democráticas deveriam temer é exatamente sua redução a “um rebanho de animais tímidos e industriosos”, livres da “preocupação de pensar”.

O velho Marx, que anda em moda por ter previsto as crises cíclicas do capitalismo, assinalou que elas decorreriam da superprodução, o que de fato ocorreu em 1929. Mas não foi o que vimos em 2008, cujos reflexos perduram. A crise atual não derivou da maximização da exploração do trabalhador, e sim da maximização da exploração dos consumidores. “Consumo, logo existo”, eis o princípio da lógica pós-moderna.

Para transformar o mundo num grande mercado, as técnicas do marketing contaram com a valiosa contribuição de Edward Bernays, duplo sobrinho estadunidense de Freud. Anna, irmã do criador da psicanálise e mãe de Bernays, era casada com o irmão de Martha, mulher de Freud. Os livros deste foram publicados pelo sobrinho nos EUA. Já em 1923, em Crystallizing Public Opinion, Bernays argumenta que governos e anunciantes são capazes de “arregimentar a mente (do público) como os militares o fazem com o corpo”.

Como gado, o consumidor busca sua segurança na identificação com o rebanho, capaz de homogeneizar seu comportamento, criando padrões universais de hábitos de consumo através de uma propaganda libidinal que nele imprime a sensação de ter o desejo correspondido pela mercadoria adquirida. E quanto mais cedo se inicia esse adestramento ao consumismo, tanto maior a maximização do lucro. O ideal é cada criança com um televisor no próprio quarto.

Para se atingir esse objetivo é preciso incrementar uma cultura do egoísmo como regra de vida. Não é por acaso que quase todas as peças publicitárias se baseiam na exacerbação de um dos sete pecados capitais. Todos eles, sem exceção, são tidos como virtudes nessa sociedade neoliberal corroída pelo afã consumista.

A inveja é estimulada no anúncio da família que possui um carro melhor que o de seu vizinho. A avareza é o mote das cadernetas de poupança. A cobiça inspira as peças publicitárias, do último modelo de telefone celular ao tênis de grife. O orgulho é sinal de sucesso dos executivos assegurados por planos de saúde eterna. A preguiça fica por conta das confortáveis sandálias que nos fazem relaxar ao sol.

A luxúria é marca registrada dos jovens esbeltos e das garotas esculturais que desfrutam vida saudável e feliz ao consumirem bebidas, cigarros, roupas e cosméticos. Enfim, a gula envenena a alimentação infantil na forma de chocolates, refrigerantes e biscoitos, induzindo a crer que sabores são prenúncios de amores.

Na sociedade neoliberal, a liberdade se restringe à variedade de escolhas consumistas; a democracia, em votar nos que dispõem de recursos milionários para bancar a campanha eleitoral; a virtude, em pensar primeiro em si mesmo e encarar o semelhante como concorrente. Esta a verdade proclamada pelos oráculos do sistema.

Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.

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Carta Aberta em defesa da escolha do DRM (Digital Radio Mondiale) como padrão técnico para o SBRD (Sistema Brasileiro de Rádio Digital)

Hoje, dia 17 de maio, Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade de Informação, nós de Rádios e TVs Livres estamos lançando ao Brasil e ao mundo uma Carta Aberta em defesa da escolha do DRM (Digital Radio Mondiale) como padrão técnico para o SBRD (Sistema Brasileiro de Rádio Digital).

Através desta carta expressamos nossas reflexões sobre a melhor opção para o Rádio Digital no Brasil e no mundo. Defendendo a livre apropriação do meio Rádio, por qualquer grupo de pessoas que queira se expressar livremente, sem censura ou fronteira, local e globalmente, somos a favor da escolha do DRM – Digital Radio Mondiale – como o padrão de Rádio Digital a ser adotado no Brasil e no mundo.

LEIA O MANIFESTO COMPLETO

Ponto 0 – Existem implementações disponíveis para download tanto da modulação quanto da demodulação do DRM, tornando possível a criação de moduladores/excitadores DRM a um baixo custo utilizando-se plataformas de SDR (Software Defined Radio).

Ponto 1 – O DRM permite que se aumente o número de rádios na faixa da atual transmissão FM, visto que cada rádio FM ocupa 200kHz, e uma transmissão DRM nessa faixa ocupa 100kHz. Na verdade, visto que numa mesma transmissão DRM pode-se transmitir 4 serviços de áudio, seria possível rádios livres de uma mesma região se unirem, por exemplo, e tornar o aumento que o DRM proporciona em número de rádios possíveis em 8 vezes (2 vezes devido a utilização de metade da banda do FM, e 4 vezes devido a possibilidade de se transmitir 4 rádios utilizando-se um único canal DRM).

Ponto 2 – Rádios que hoje transmitem na faixa de Ondas Médias e Ondas Curtas terão grande aumento da qualidade do áudio. Rádios que hoje transmitem na faixa do FM poderão transmitir em até 5.1 surround. É possível transmitir slideshows de fotografias, textos, websites, e até vídeo ao vivo em baixa definição no padrão DRM, para receptores que suportem esses recursos.

Ponto 3 – O DRM funciona para se transmitir na faixa de ondas curtas, oque torna possível rádios com alcances continentais e até intercontinentais. Além disso permite a utilização de faixas de broadcast em ondas curtas hoje totalmente inutilizadas, como a faixa dos 26MHz, que potencialmente podem ser utilizadas para permitir que muitas novas rádios sejam criadas, e que durante o período de transição do analógico para o digital, todas as rádios tenham espaço no espectro para transmitir em analógico e digital. Nenhum outro padrão de Rádio Digital funciona na faixa de Ondas Curtas.

Ponto 4 – Para se obter a mesma área de cobertura de um transmissor analógico, utilizando-se o sistema DRM, é necessário o uso de aproximadamente somente 1/10 da potência utilizada no transmissor analógico, ou seja, o padrão DRM trará uma enorme economia de energia para as rádios e para o país, além do transmissor ficar bem mais barato, já que a parte mais cara de um sistema de transmissão é a parte de potência do mesmo.

Ponto 5 – O DRM é um padrão mundial novo, sendo que países de dimensão continental como a Índia e a Rússia já anunciaram sua adoção. Isso abre a possibilidade de um padrão para Rádio Digital que seja utilizado globalmente.

Ponto 6 – O DRM é um padrão de Rádio Digital que permite que rádios de baixa potência existam, assim como rádios de grande potência e mantém o esquema descentralizado de transmissão do rádio, que é como deve ser, para possibilitar que todos possam transmitir/receber, onde quer que estejamos.

Ponto 7 – O DRM é o melhor padrão de Rádio Digital que existe em nossa visão, visto que o grupo de padrões que requerem uma distribuição centralizada (como o DAB) nós rechaçamos, visto que isso gera um controle centralizado das transmissões, e o outro grande padrão considerado, o HD Radio, é propriedade de somente uma empresa, e assim como outro padrão de rádio digital, o ISDB-Tsb, eles utilizam maior banda espectral do que o DRM, favorecendo a escassez de canais para rádios, contribuindo para a manutenção dos grandes monopólios.

Ponto 8 – Já temos o conhecimento de como transmitir e receber DRM, ler “http://www.radiolivre.org/node/3825” e “http://www.radiolivre.org/node/3807”, de forma que em breve teremos nossos transmissores DRM a um baixo custo.

Ponto 9 – Somos contra o desenvolvimento de um padrão técnico nacional, visto que o padrão DRM atende a todas as necessidades brasileiras e mundiais. Além disso o consórcio que gere as normas do DRM e seu futuro é uma organização aberta que aceita novos membros, desenvolvimentos e melhorias. Queremos um padrão técnico mundial, de forma que as pessoas possam transmitir e receber rádio sem fronteiras nem censuras.

Assinado,

Rádio Capivara
Rádio Muda
Rádio Pulga
Rádio Radiola
Rádio Xibé
TV Piolho
Rizoma radiolivre.org

—-
reprodução de matéria vinculada no CMI Brasil
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2010/05/471649.shtml

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