Em Buenos Aires, começou neste domingo um curso para radiodifusores de todo o país. São sessenta organizações que aqui se juntam para discutir, articular e principalmente, somar forças para a Radiodifusão alternativa, comunitária e popular. Esse curso foi proposto pela Rede Nacional de Meios Alternativos, uma rede que há 6 anos vem trabalhando no fortalecimento dos meios aqui da Argentina.
O momento é muito importante, pois a Nova Lei dos Meios foi aprovada agora por aqui, depois de um ano de debates entre toda a sociedade, e agora, o Governo fará um levantamento estatístico de quais rádios existem, em que frequencia vem transmitindo, e quem são seus proponentes. Por isso, esse curso foi desenvolvido com o intuito de juntar forças para montar transmissores de baixa frequencia para que os radiodifusores e organizações que vem trabalhando pela internet, ocupem o dial, e assim, tenham a possibilidade de legalizarem suas rádios neste momento de transição.
Participar deste curso tem sido uma experiência muito rica. Primeiro, pois a cada momento estou em contato com diferentes agentes sociais, que em suas regiões trabalham com as mais variadas organizações, conversar sobre como se produz rádio em regiões tão distintas, e ao mesmo tempo com tantas coisas em comum conosco, é muito rico. Segundo, pois o grupo vai se autogestionando, para a montagem dos equipamentos, temos oito a dez mesas, nas quais a produção é um tanto fordista. Na segunda feira passei a manhã toda entortando arames, e hoje, participei da montagem das antenas para a transmissão. Ao mesmo tempo em que estamos fazendo pequenas peças, estamos intercambiando experiências e conhecimentos. A ideia do todo vem aos poucos, e instiga a ideia de poder compartir isso com todos.
Ao mesmo tempo, me vejo em um processo pessoal e profissional profundo. Eu e o Paulo estamos conversando muito a respeito de nossas ações futuras para a implantação de uma rede de radiodifusão em Curitiba, na tentativa de ampliar as possibilidades de produção e reprodução.
Aqui somos os “brasileiros” e por conta disso temos dividido muito de nossas experiências com os companheiros daqui, pois por mais acerca que estejamos, temos processos distintos. A constituição da Ley de los Medios aqui foi bem distinta de nossa Conferência de Comunicação: aqui, os debates partiram de uma proposta de lei do governo, e os debates englobaram diversas organizações e a sociedade civil. Para se ter ideia, no dia em que a Lei foi aprovada, 40mil pessoas se uniram para comemorar no Obelisco, na 9 de julio (maior avenida daqui, e do mundo!).
Também as rádios aqui tem outro aporte. Existem muitas delas em funcionamento sem terem outorgas legais, porém não há a repressão que vemos no Brasil, e aqui, os argentinos ficam surpresos ao saber que no Brasil se pode ir preso por querer comunicar-se, bem como riem do mito brasileiro de que rádios livres derrubam aviões.
Ainda há muito trabalho a ser feito, e cada dia a experiência se torna mais rica, a medida em que todos vão se conhecendo, construindo juntos não somente transmissores, mas conhecimentos, relações e histórias futuras.