Uma das grandes belezas de se viajar é conhecer o novo. Descobrir algo inusitado, que lhe abre novas visoes. Assim foi no dia em que entre naquela pequena porta, muitos livros por todos os lados, confusao geral.
Bem, estou a procura de escritores locais, talvez de historia, ou antropologia. Quero aprender mais sobre o Pará e a literatura pode me ajudar. Entao entra em cena um homem respeitavel. José David, dono do lugar. Comeca a jogar livros pra um lado e pro outro, ao mesmo tempo em que fala muito sobre politica, economia e historia do lugar. Estava a procura de seu escritor predileto: Benedicto Monteiro.
Depois de alguma procura, ele me dá um livro fininho, da biografia do tal. Se desculpa que nao tenha outros livros deles, de poesias. Ainda conversamos por algum tempo, sobre Jader Barbalho, sobre a floresta, e sobre a falta de interesse do povo daqui por toda essa história. Nos despedimos, e eu sem saber o bem que tinha me feito, já me sentia animada para comecar a leitura.
Depois que comecei, nao consegui parar. O cara é realmente muito bom. Com uma escrita fluída, conta sua história como jornalista, advogado, deputado, político cacado pela ditadura, escritor e ser humano.
Em uma das passagens, refere-se a quando, durante o regime ditatorial, teve que tomar um aviao para o interior da floresta, onde se escondeu dos militares até que foi achado, e levado para a solitária. Deste voo sobre a Amazonia, ele se inspirou para sua obra Verde VagoMundo, diz ele que de lá se ve tantas cores de verde, que se desacredita que possam realmente existir. Ainda estou atrás deste livro, bem como de sua história.
Depois de conhecer algo, parece que nos abrimos para receber mais. E foi assim, que eu comecei a conversar com locais a respeito dele, homem respeitado por muitos, e também conhecido de todos. Um me disse que viu quando ele foi levado pelos militares, amarrado com um tronco em seus ombros, como Jesus. Outros me contaram de tantas coisas que este grande homem fez pela regiao, como por exemplo a insipiente reforma agraria no estado, antes da ditadura, quando acentou milhares de pequenos agriculturas nas margens da Belém-Brasília.
Sua vida foi marcada por muitas lutas, em busca de uma sociedade mais justa, mesmo quando ele mesmo foi injusticado. Esteve na solitária durante dois meses, onde ninguém falava com ele, a saída era quebrar as barreiras através do pensamento, e foi o que ele fez. Criou, pensou, reconstruiu-se.
Ano passado o Pará se despediu deste grande homem, mas ainda suas marcas estao por todos os lados, no sentimento que deixa nas pessoas, na transformacao que propaga com sua boa literatura e belos contos.